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A “r(EU)volução” da comunicação: cuidado você está dentro dela!
Opinião em foco
Publicado em 16/09/2023

Uma das revoluções mais impactantes da história está em pleno curso, mudando diariamente como se produz e distribui conteúdo e informação, bem como a maneira de consumirmos todo tipo de dados que é, literalmente, jogado em cima de nós. Isso significa que, uma vez que a oferta de informação aumentou, com ela aumenta a responsabilidade na seleção de onde consumiremos a informação, e o problema está exatamente aí, na questão da responsabilidade.

Desde a antiguidade o homem conta histórias e espalha informações. Se comunicar é uma necessidade biológica do ser humano. Somos sociais e, ao longo da história humana, fomos desenvolvendo formas de compartilhar nossos conceitos e valores. Primeiro, em sociedades de tradição oral, no boca a boca. Com o tempo, nas paredes das cavernas, até que a coisa evoluiu para papiros, pergaminhos e, muito tempo depois, o papel.

O problema da tal revolução da informação, portanto, não é uma questão biológica ou mesmo psicológica, já que o ser humano lida com isso desde que perambula sobre a terra, dando uma pista sobre o tal problema de comunicação com o qual tanto nos debatemos hoje em dia.

A primeira grande revolução da informação, na história, foi a invenção da prensa, por Gutemberg, no século XV. Antes da prensa, livros eram artigos de luxo restritos às classes mais altas. A informação existia, os dados existiam, mas a forma de distribuição era cara, o que dava à aristocracia e ao clero controle sobre como fariam a disseminação da informação. Com a prensa, os livros se tornaram mais baratos e disponíveis, as classes mais baixas se alfabetizaram, a partir dessa demanda, e menos de cem anos depois a invenção de Gutemberg desencadeou outra revolução que mudou o curso da história: a reforma protestante.

Bem, os anos passaram, a prensa transformou a imprensa, que ajudou a inaugurar a chamada idade moderna, disseminando informações por todo o canto. Por cerca de 500 anos, fomos treinados a pegar um livro, uma revista e um jornal nas mãos e lê-los. Era um canal com uma só via: do autor para o editor, e então para o consumidor. Foi assim que fomos treinados a produzir e consumir informação. Anos depois, já em nossa geração, surgiram os computadores e a internet, implodindo o que o sistema estabelecido desde a criação de Gutemberg.

O grande desafio desse novo momento não está na quantidade de informações à disposição. Está na forma como nos relacionamos com elas. Tecnologias novas, em si, não representam nada. Elas apenas permitem que façamos coisas que já fazíamos, de um jeito diferente. Neste sentido, a grande revolução da internet é que ela permitiu termos acesso a algo que, antes, não tínhamos. A grande novidade é que a internet integrou o consumidor da informação ao processo. Isso é fantástico, mas os grandes problemas da comunicação é que isso exige uma responsabilidade que, geralmente, não tínhamos: a de selecionar e mudar como fomos treinados para consumir informação, e isso provoca várias mudanças em nosso comportamento.

Nossa geração foi treinada para consumir informação em forma de histórias, com começo, meio e fim. A internet, com a realidade do hipertexto, fez com que a informação não siga mais, necessariamente, essa sequência. Você lê um texto em um site e, de repente, encontra um link, clica e vai para outra referência. Lá se depara com um vídeo que te joga em outra plataforma e por aí vai. É esse excesso de informação que pode afastar as pessoas do mundo real, dos relacionamentos e do contato fixo com o mundo. A pandemia, em sua plenitude, mostrou quais são os resultados disso.

Diante de tudo isso, o insight é você perceber quais suas responsabilidades: primeiro, controlar quando mergulha nos canais de comunicação. Segundo, selecionar onde você mergulha para consumir informação. Antigamente era muito fácil. Quatro redes de televisão, quatro redes de rádio, quatro grandes jornais e deu. Era dali que vinha a informação, e era o que tinha. Para acessar outras informações, você teria de contar com algum amigo trazendo um livro ou revista do exterior. Teria de se enfiar numa biblioteca. Era tudo muito trabalhoso.

E uma última responsabilidade que vale à pena citar: como você influencia o processo. Se antigamente quem não lia não podia assistir televisão sem ser manipulado, hoje quem não lê muito mais, não pode acessar os diversos canais sem ser manipulado a cada clique. Nos anos 70 e 80 a gente via a família, como zumbis, hipnotizados diante de uma televisão. Um só aparelho, na sala. Sem lugar de fala, só consumindo o que jogavam sobre você. O único impacto que você causava era indireto: dar audiência para os programas. E fim.

Hoje, você virou audiência, e quando você engaja, clica, assiste algo, você dá vida àquele canal. Então preste atenção ao que você dá audiência nas redes sociais. O grande perigo é alimentar monstros que podem engolir você.

Alisson Magalhães é Ministro Ordenado na Igreja do Nazareno, formado em Teologia pela Faculdade Nazarena do Brasil, professor de Teologia em cadeiras teológicas, pastorais e na área de música e adoração. Autor do livro Cristianismo 4.0 – Desafios para a comunicação cristã no século XXI, à venda pela Book Up Publicações. Consultor em Comunicação Governamental e Marketing Político, atualmente serve com sua esposa, Elaine, na Serra Catarinense, onde também atua como jornalista e Chefe de Gabinete na prefeitura de Palmeira/SC.

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