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Sal insípido
13/03/2023 20:38 em Mundo cristão

Hoje todo mundo quer ser especialista em alguma coisa. Uma idolatria, um heroísmo, uma histeria coletiva. O ser do universo. Todo mundo quer mostrar ser capaz.

Deus me livre da especialização! Esse é o meu mandamento categórico de vida e torço para que muitos o sigam também, como não mentir era um mandamento para Kant. A especialidade intelectual é a parteira da tirania, frase também usada por Dalrymple e mais ou menos imitada aqui, e o especialista geralmente não tem o conhecimento profundo necessário das coisas superiores e, ainda assim, escreve como se o tivesse. Um agente da mediocridade.

Silvio de Almeida é um exemplo de “especialista”, e dos bons. Tem um currículo não invejável, mas, para a Presidência da República, razoável para o ministério dos Direitos Humanos. Tem dois pós-doutorados, um doutorado e um mestrado, além de quatro livros escritos, mas sua especialidade parece ser a tal da branquitude. Se, em tese, um negro negar um cargo a outro negro não é racismo para este novo ministro, penso como devem ficar os “brancos e privilegiados” sem um judiciário “incolor”.

Se Almeida fosse especialista em generalidades o seu trabalho seria um tanto mais confiável, já que a generalização sempre foi a especialidade de grandes gênios da humanidade (e aí reside, por certo, a genialidade). Um exemplo de especialidade tirânica é ver como direito humano o da mulher que tira a vida do filho no ventre e diz atentar contra si mesma, e, contrariamente, não o é o daquela que decide dá-lo em adoção. A histeria coletiva leva a pesar diferentemente situações envolvendo coirmãos em humanidade. A isonomia vai para o brejo.

A coletividade vive angustiada, principalmente quando o assunto é direitos humanos. Será que Almeida vive angustiado como a coletividade? Monopolizando o racismo nos brancos (vide seu Racismo estrutural), aposto que sim.

O filósofo Kierkegaard trata da angústia no magistral O conceito de angústia. Antes da Queda não havia angústia porque tudo era o que era (se não era bom, saudável, enfim, perfeito, então não se pode dizer que era o contrário disso, ou seja, mau, ruim, político, ideal, insalubre, perigoso, enfim, imperfeito). Ou seja, não se pode qualificar o Paraíso por comparações a hoje, mas lá não havia mal e maus como hoje. Paraíso é paraíso. Um lugar que só Deus sabe, e nós o especulamos por comparações com a desgraça contemporânea.

A angústia kierkegaardiana não tem a ver com boletos, desemprego, futuro, filhos, acidentes, catástrofes, morte, salvação, enfim, nada concretamente. A desobediência no Éden desencadeou o pecado, a angústia e, assim, a liberdade de “ser capaz de” algo. Isso não deveria trazer angústia, mas trouxe. Alguns se suicidam, outros decidem continuar de fé em fé. Outros desumanizam outros.

Alguns teóricos escrevem como se escrevessem sem a noção de tempo e de eternidade, como almas viventes. Renegam propositalmente a própria espiritualidade, pensando em o que vão fazer com tanta liberdade. Dentro do cristianismo isso seria pior do que o paganismo, porque é a negação do espírito, e a negação do espírito equivale a negar que o espírito é espírito, que o sal é sal.

Kierkegaard define:

“A a-espiritualidade não reconhece nenhuma autoridade, pois ela sabe afinal perfeitamente que para o espírito não há nenhuma autoridade superior, mas já que, por desgraça sua, ela não é espírito, então ela é, apesar de seu saber, uma perfeita idólatra. Ela adora um imbecil e um herói com a mesma veneração, mas, antes de qualquer outro, o seu fetiche, a rigor, é o charlatão.”

Poderemos dizer que o estruturalismo é um anticristianismo? Depende do nível de conhecimento que têm aqueles que o pregam como almas viventes.

Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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