Eu confesso: tornar-me um pai me encheu de medo. Por alguma razão, eu pensava que só as novas mães tinham emoções fortes. Mas quando tirava a máscara de marido responsável e era honesto comigo mesmo, eu me perguntava se a minha juventude tinha acabado. Achava que um bebê atrapalharia meu crescimento pessoal. Não sabia se o romance no meu casamento esfriaria com a chegada de um bebê.
Mas, como homem, o meu principal obstáculo foi o medo de insignificância que eu procurava aliviar com a minha produtividade e conquistas profissionais. O tempo nunca é suficiente para quem quer se provar ao mundo e a si mesmo. Para ser bem sincero, um bebê parecia um malabarismo a mais — e um não estritamente necessário. Não tinha certeza se estava pronto para ser pai, nem mesmo se queria um filho.
Albert Einstein me ajudou a superar esse nó. Aconteceu em uma tarde rabugenta, depois que eu havia discutido com a minha esposa por um motivo bobo. Abri o computador e busquei algo que acalmasse meu estresse online. As tragédias e as fofocas daquele dia não ajudaram, até que abri o site da revista Time. Por alguma razão, havia ali em destaque um artigo de 1955 intitulado “A morte de um gênio”. Era o obituário escrito logo após a morte de Einstein, ao lado das notícias da semana.
Cliquei no obituário e comecei a ler. Era cheio de prosa antiquada e afirmações grandiosas, dignas da solenidade da ocasião. Apresentava Einstein como um homem que “avançou ousadamente junto aos grandes da história”, como Pitágoras, Arquimedes e Isaac Newton. Entre declarações elogiosas do presidente Eisenhower, Pravda e Bertrand Russell, o obituário descrevia um gênio que “viajou em esplendor solitário para as encruzilhadas do visível e do invisível.”
Adorei o artigo. O cientista vencedor do Prêmio Nobel era descrito como um homem desatento que certa vez entrou no restaurante de um cruzeiro trajando pijamas. Em outra ocasião, Einstein “usou um cheque de 1.500 dólares como marcador de livro, e então perdeu o livro”.
Mas o trecho que me falou à alma foi um parágrafo sobre a juventude de Einstein. Para alguém que alcançou tamanha envergadura, era curioso imaginar o grande Albert Einstein como um estudante nerd da Escola Politécnica de Zurique. Ele se casou com uma companheira intelectual, a matemática Mileva Marie, e eles tiveram um filho. Einstein tinha um emprego monótono, examinando arquivos no Escritório Suíço de Patentes, a fim de sustentar a família. Mas sua mente voava atrás de teorias da física e lógicas abstratas. Durante o trabalho, rabiscava fórmulas matemáticas em pedaços de papel e os colocava no bolso para reflexões futuras. Era uma cena curiosa de imaginar: os primeiros passos rumo a descobertas brilhantes para nós que conhecemos a trajetória das teorias de Einstein, mas uma cena que deveria ser meio patética para seus colegas de escritório, ver os rabiscos incompreensíveis escritos de vez em quando pelo colega distraído.
Aí veio a frase pela qual eu ansiava. “De noite, ele podia ser visto empurrando uma carruagem de bebê pelas ruas, parando aqui e ali para anotar filas de símbolos matemáticos.” Minha visão embaçou, uma lágrima escorreu pela minha face e parei de ler. Aquela frase capturava a incongruência que eu vinha sentindo. Era ridículo, engraçado e redentor — tudo ao mesmo tempo — imaginar Einstein empurrando um carrinho de bebê e rabiscando os teoremas que um dia redefiniriam a física moderna. Era uma cena tragicômica, o peso do dever cotidiano carregado por um intelecto que sonhava com a velocidade da luz, mas que precisava dar atenção às praticidades da vida em família.
Percebi que até o próprio Albert Einstein sentiu o que eu estava sentindo. Eu também tinha algumas ideias que queria desenvolver um dia. Eu também desperdiçaria parte do meu potencial assistindo a desenhos animados que ensinam o nome das cores. Reconheci uma parte de mim naquela cena, a parte que precisava de um banho de graça: minha inquietude, meus planos profissionais e meu medo de insignificância. Foi uma cena redentora, que dizia: Está tudo bem. Vai ser só uma fase. Um dia você vai ter tempo para suas ideias.
Contemplar Einstein empurrando um carrinho de bebê enquanto sonhava com a física me tocou, sobretudo, porque não desprezou minhas emoções. Não me disse algo do tipo: Não seja bobo. Você não sabe que tudo o que importa na vida são os filhos e a família? Em vez de anular minha vontade de realizar e contribuir, mostrou que mesmo no auge do fardo doméstico, quando as crianças são pequenas, o trabalho é um tédio e o dinheiro é curto, a nossa vocação não deve morrer.
Em vez disso, aquela cena me disse: Empurre seu carrinho, mas rabisque também seus pensamentos. Não pense que serão desperdiçados porque você não tem a energia para desenvolvê-los. Agora são só rabiscos. São pedaços de papel que você talvez coloque dentro de um livro e aí perca o livro. Mas talvez sejam importantes. Quem sabe um diria redefinirão como as pessoas veem o mundo. Acredita nas suas coisas, rapaz. Não deixe esses momentos de inspiração passar.
Coloquei o computador de lado. Mal podia me lembrar da física do ensino médio. Mas podia empurrar meu carrinho de bebê. Como conto em Não É Fácil Ser Pai, meus sonhos vocacionais seriam secundários por um tempo, mas não seriam negados. Iria escrever meus rabiscos para etapas futuras, mas não perderia a dádiva do pequeno ser humano que estava para receber.
Olha só. Quem diria que até para os gênios era difícil conciliar a família e o trabalho?
René Breuel é um escritor brasileiro que mora em Roma, na Itália. Autor da obra Não é fácil ser pai: Como domar os leõezinhos, não chatear sua esposa e recuperar (um pouco) a sanidade depois da paternidade, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.